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Educação para as Competências por Philippe Perrenoud

É importante, antes de qualquer discussão sobre o assunto, buscarmos entender o que é uma competência. Dessa forma, podemos dizer que a competência é a capacidade de mobilizar conhecimentos a fim de se enfrentar uma determinada situação.

Segundo Perrenoud (1999, p. 30): “Competência é a faculdade de mobilizar um conjunto de recursos cognitivos (saberes, capacidades, informações etc.). Para solucionar com pertinência e eficácia uma série de situações”.


Três exemplos:

  1. Saber orientar-se em uma cidade desconhecida mobiliza as capacidades de ler um mapa, localizar-se, pedir informações ou conselhos; e os seguintes saberes: ter noção de escala, elementos da topografia ou referências geográficas.
  2. Saber curar uma criança doente mobiliza as capacidades de observar sinais fisiológicos, medir a temperatura, administrar um medicamento; e os seguintes saberes: identificar patologias e sintomas, primeiros-socorros, terapias, os riscos, os remédios, os serviços médicos e farmacêuticos.
  3. Saber votar de acordo com seus interesses mobiliza as capacidades de saber informar-se, preencher a cédula; e os seguintes saberes: instituições políticas, processo de eleição, candidatos, partidos, programas políticos, políticas democráticas etc. Segundo Perrenoud (1999):


“Se aceitarmos que competência é uma capacidade de agir eficazmente num determinado tipo de situação, apoiada em conhecimentos, mas sem se limitar a eles, é preciso que alunos e professores se conscientizem das suas capacidades individuais que melhor podem servir o processo cíclico de Aprendizagem-Ensino-Aprendizagem”. (PERRENOUD, 1999, p. 7).

Nessa perspectiva, é fundamental diferenciar competência de habilidade. Compreendendo, de forma simplificada, que a competência orquestra um conjunto de esquemas de percepção, pensamento, avaliação e ação, enquanto a habilidade é menos ampla e pode servir a várias competências. (Perrenoud, 1999, p. 7) afirma que “para enfrentar uma situação da melhor maneira possível deve-se, de regra, pôr em ação e em sinergia vários recursos cognitivos complementares, entre os quais estão os conhecimentos”.

Assim segundo Ferreira (2001): “A construção de competências é inseparável da formação dos esquemas mentais que mobilizam os conhecimentos adquiridos, num determinado tempo ou circunstância. A mobilização dos diversos recursos cognitivos, numa determinada situação, assegura-se pela experiência vivenciada. O sujeito não consegue desenvolvê-la apenas com interiorização do conhecimento. É preciso internalizá-la buscando uma postura reflexiva, capaz de torná-la uma prática eficaz”. (FERREIRA, 2001, p. 48).

Contudo, e importante ressaltar que: “O reconhecimento e aceitação de que o conhecimento é uma construção coletiva e que a aprendizagem mobiliza afetos, emoções e relações com seus pares, além das cognições e habilidades intelectuais, permite-nos propormos o desafio de construir competências e habilidades. Isso significa aprender a aprender a pensar, a relacionar o conhecimento com dados da experiência cotidiana, a dar significado ao aprendido e a captar o significado do mundo, a fazer a ponte entre teoria e prática, a fundamentar a crítica, a argumentar com base em fatos, a lidar com o sentimento que a aprendizagem desperta”. (FERREIRA, 2001, p. 52).

A discussão a respeito das competências tem um viés de grande importância, que é justamente o currículo escolar. Em uma proposta político-pedagógica, é necessário levantar este debate, pois nem sempre estamos preocupados com as competências ensinadas e aprendidas na escola, falando, neste aspecto, tanto dos alunos como dos professores. O trabalho com as competências exige, de todos os agentes envolvidos no processo educativo, uma mudança de postura e, por consequência, um permanente trabalho pedagógico integrado, em que todas as práticas devem ser apreciadas em um processo contínuo de avaliação.

O currículo é o campo mais interessante para transformar o processo pedagógico não apenas em um rol de conteúdos, de disciplinas, mas em um todo, preocupado para além destes saberes, muitas vezes, isolados do mundo em que cada aluno e professor vivem. O currículo deve expressar e oportunizar a relação entre a construção do conhecimento e sua reflexão com a realidade.

Para tanto, é fundamental perceber que a escola deve repensar suas formas de processar a educação, buscando entender como trabalhar com as competências, pois, segundo Perrenoud, ao falar para Gentile e Bencini (2000): “A abordagem por competências é uma maneira de levar a sério um problema antigo, o de transferir conhecimentos. Em geral, a escola preocupa-se mais com ingredientes de certas competências e menos em colocá-las em sinergia nas situações complexas. Durante a escolaridade básica, aprende-se a ler, escrever, contar, mas, também, a raciocinar, explicar, resumir, observar, comparar, desenhar e dúzias de outras capacidades gerais. Assimilam-se conhecimentos disciplinares, como Matemática, História, Ciências, Geografia etc”. (PERRENOUD, 1999, p. 18).

Contudo, alerta que: “(…) a escola não tem a preocupação de ligar esses recursos a situações da vida. Quando se pergunta por que se ensina isso ou aquilo, a justificativa é geralmente baseada nas exigências da sequência do curso: ensina-se a contar para resolver problemas; aprende-se gramática para redigir um texto. Quando se faz referência à vida, apresenta-se um lado muito global: aprende-se para se tornar um cidadão, para se virar na vida, ter um bom trabalho, cuidar da saúde. A transferência e a mobilização das capacidades e dos conhecimentos não caem do céu. É preciso trabalhá-las e treiná-las, e isso exige tempo, etapas didáticas e situações apropriadas, que hoje não existem”. (PERRENOUD, 1999, p. 20).

A formação dos educadores, para melhor desenvolver as competências no processo de ensino-aprendizagem, passa por um momento importante, que é a potencializarão de suas competências. Rever algumas práticas e ampliar as competências em diversas outras áreas do processo educativo é fundamental para atingir-se uma ampla formação educacional.

Nesta área da formação de educadores, fundamentado na análise das Diretrizes Curriculares para a Formação do Professor da Educação Básica, Virgínio (2001) afirma que: “No campo da formação do profissional docente, o profissional competente é aquele que sabe pôr em prática todo seu back-ground de recursos mobilizáveis em determinadas situações, sabe refletir sobre a e na ação, agindo com urgência e na incerteza. Para caracterizar-se com prático reflexivo, contudo, suas competências de referências devem ser definidas pelo coletivo ao qual pertence. Ou seja, as competências profissionais do professor reflexivo envolvem saberes teóricos e saberes práticos (saberes da prática e saberes sobre a prática)”. (VIRGÍNIO, 2001, p. 48).

Perrenoud, preocupado com este debate sobre as competências dos educadores, desenvolveu alguns referenciais sobre o assunto. Ele propõe uma série de competências específicas agrupadas em famílias de competências fundamentais para os educadores no processo pedagógico, com o intuito de melhor desempenhar e desenvolver suas ações no campo da educação.

Enfim, as competências são fundamentais na discussão sobre os processos de ensino-aprendizagem, assim como para a relação entre educação e realidade.

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