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Chico Buarque e a Ditadura na canção Apesar de Você

Quando nos referimos e este grande compositor da música popular brasileira, o que ele nos sugere são composições abarrotadas de ambiguidades e metáforas, pois as composições de Chico Buarque de Holanda estão intrinsecamente ligadas aos anos vividos pela ditadura militarista dentro do território brasileiro, composições estas que se fazem presentes e ativas até os dias de hoje.

A característica da composição de Chico Buarque

As belezas destas composições fazem se extremamente mostradas ao longo dos anos, pois apresenta como formas, características inovadoras na nossa respeitada MPB, Chico Buarque por meio de suas composições apresenta muito bem o movimento ditatorial que podemos considerar que teve início no golpe militar de 1964 e culminou até 1988, encerrando-se após as diretas já.

Como objeto de estudo, vamos analisar como texto musical a composição de Chico Buarque, Apesar de você 15, esta composição traduz de forma perfeita a ditadura adotada e colocada em prática na época.

Conheça a canção

Apesar De Você

(Chico Buarque)

(Crescendo) Amanhã vai ser outro dia

Hoje você é quem manda

Falou, tá falado

Não tem discussão, não.

A minha gente hoje anda

Falando de lado e olhando pro chão

Viu?

Você que inventou esse Estado

Inventou de inventar

Toda escuridão

Você que inventou o pecado

Esqueceu-se de inventar o perdão.

(Coro) Apesar de você

amanhã há de ser outro dia

Eu pergunto a você onde vai se esconder

Da enorme euforia?

Como vai proibir

Quando o galo insistir em cantar?

Água nova brotando

E a gente se amando sem parar

Quando chegar o momento

Esse meu sofrimento

Vou cobrar com juros. Juro!

Todo esse amor reprimido,

Esse grito contido,

Esse samba no escuro

Você que inventou a tristeza

Ora tenha a fineza

de “desinventar”

Você vai pagar, e é dobrado,

Cada lágrima rolada

Nesse meu penar

(Coro2) Apesar de você

Amanhã há de ser outro dia.

Ainda pago pra ver

O jardim florescer

Qual você não queria

Você vai se amargar

Vendo o dia raiar

Sem lhe pedir licença

E eu vou morrer de rir

E esse dia há de vir

antes do que você pensa

Apesar de você

(Coro3) Apesar de você

Amanhã há de ser outro dia

Você vai ter que ver

A manhã renascer

E esbanjar poesia

Como vai se explicar

Vendo o céu clarear, de repente,

Impunemente?

Como vai abafar

Nosso coro a cantar,

Na sua frente.

Apesar de você

(Coro4) Apesar de você

Amanhã há de ser outro dia.

Você vai se dar mal, etc e tal,

La, laiá, la laiá, la laiá??

Analisando a composição de Chico Buarque

A composição de Chico Buarque atuou diretamente contra a ditadura militar, pois a mesma fora escrita período. Muitas vezes, nem se quer damos conta que se trata de uma crítica disfarçada a este período. A canção “Apesar de Você” foi escrita no mesmo ano em que a seleção brasileira de futebol conquistou o tricampeonato mundial, as torturas e desaparecimentos de pessoas contrárias ao regime do general Médici eram constantes.

Chico Buarque fez a letra dirigida exatamente à Médici, e enviou aos censores, certo de que não passaria. Mas para seu engano a canção passou e foi gravada e o compacto atingia a marca de 100 mil cópias, quando um jornal insinua que a música era uma homenagem ao presidente.

A gravadora foi invadida e todas as cópias destruídas. Chico foi chamado a um interrogatório para prestar informações e esclarecer que era o “você” mencionado na música, e respondendo disse: “É uma mulher muito mandona 16, muito autoritária”. A canção só foi regravada em 1978, num álbum que leva o nome do autor da música.

Entendendo o sentido da canção

A canção proposta se constrói carregada de mensagens e significados, pois o texto musical atua na sociedade como uma reação para qualquer oprimido por alguma ditadura social, o mais interessante é que a canção que está escrita se for lida parece-nos algo sem muito significado, porém se for interpretada e entendida ela atua sobre a ditadura como uma espécie de afronto, tal fato se ergue pela ousadia da letra, que ao mesmo tempo em que está escrita, ou seja, explícita; o verdadeiro significado também está implícito.

A música se inicia com a frase “amanhã vai ser outro dia”, onde este trecho vai aumentando como se fosse o início de uma discussão, em seguida temos. Hoje você é quem manda/Falou, tá falado/não tem discussão, não. Este trecho nos dá a ideia de o início de uma discussão, mas na verdade a música está se dirigindo a incompreensão da ditadura em relação a sociedade na época, fato este que oprimiu e calou as vozes de muitas pessoas.

A minha gente hoje anda/ Falando de lado e olhando pro chão/ Viu? / Você que inventou esse Estado/ Inventou de inventar/ Toda escuridão. Este trecho marca como as pessoas viviam diante da ditadura, a palavras gente, constrói no texto um sentido humilde diante da sociedade que se liga ao fato das pessoas estarem desacreditadas, ou seja, olhando para o chão, a palavra estado aparece na música formada por ambiguidade, pois o estado pode ser interpretado como estado emocional ou como estado referente a governo.

Estado este que é responsável pela escuridão, que pode ser entendida como tudo de ruim exposto pela ditadura. O refrão da música é muito significativo e repleto de mensagem por que apresenta a ideia central das letras que o fato de que apesar de alguém “ditadura”, amanhã outra coisa acontecerá, ou seja, será outro dia. A ideia de outro dia traz consigo o recado da renovação.

Eu pergunto a você aonde vai se esconder/ Da enorme euforia?/ como vai proibir/ quando a galo insistir em cantar?/ Água nova brotando/ E a gente se amando se parar. Este trecho mostra apresenta que se liga a música pelo viés da indagação, quer dizer quando isso tudo acabar o que pretende fazer, todos estarão eufóricos não terá mais nada para proibir, a figura do galo cantando lembra novamente a manhã e a mesma por sinal acrescenta-se na mensagem de um novo dia.

Água nova brotando/ E a gente se amando sem parar. Este trecho é responsável pela construção da ambiguidade da música, apresentado sobre a mesma o sentido de que um homem está se dirigindo a uma mulher e é por este fato que a canção passa despercebida pela ditadura. 

A canção segue fazendo um jogo de ambiguidade onde o compositor teve o cuidado de falar ao mesmo tempo com a suposta “mulher”, que na verdade ninguém mais é do que a ditadura. E fantasticamente para fechar a ideia da composição Chico Buarque acrescenta ousadamente, Você vai se dar mal etc e tal/ La, laiá, la laiá, la laiá??.

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